Friday, December 23, 2011

Sorteio

Do seu lado, ali, parado e sujo estava aquela antiga arma da Segunda Guerra Mundial. A mesma que foi-lhe companheira durante toda a década de 40, era seu troféu, era sua irmã, era a unica coisa que sobrara em sua vida. 89 anos vividos dentre guerras e sorrisos, entre almas caídas por amor e por dor, entre viagens boas e ruins. Hoje seus 89 anos significavam o que ele não pode aproveitar, deixou em algum momento suas fichas caírem no chão e não voltou para pegá-las, era hoje os resquícios de um homem, deixou de ter amantes, deixou de ter ascendentes, deixou tudo para depois, exceto a guerra. A mesma que lhe deixou em coma por vinte anos após uma granada perguntar se podia arruinar sua vida.

Voltando ao tempo, temos um homem, com 46 anos acordando para sua nova vida, sua pouca propensão a ter amigos explodiu junto da fonte de seu coma, não teve nem a compaixão da própria enfermeira que lhe deu os cuidados necessários para que voltasse à sua vida normalmente, e ele perguntou o que era vida, parecia algo tão subjetivo, o que faria dela? Era de comer? Seu novo modo anti-social aliado a sua pensão vitalícia por danos causados pela guerra lhe permitiu uma vida sem contatos pessoais, sem afeições. Nem mesmo a garota do supermercado se atrevia a sorrir para um homem de barba mal feita e mal encarado como era agora aquele anti-herói da humanidade.

Hoje é seu aniversário de 89 anos, o tempo passou mais rápido, não? Mas ele aguardava ansiosamente sua morte, desejava que a granada não tivesse sido incompetente em sua missão e assistia programas gastronômicos para descobrir se o Bacon era uma boa forma de se matar lentamente. Em sua porta pilhas de jornais, revistas e correspondências de parentes distantes. Não se atreveu a sair de casa durante 25 anos, desde que levou uma bala nas costas e perdeu o movimento de seu lado direito do corpo. Sua motivação, que já fora quase nula tempos atrás, tornou-se absolutamente zero. Mas a morte não lhe dava sossego tão cedo.

Ele deitou e colocou a arma sobre seu peito, começou a cantar uma cantiga que sua mãe cantarolou quando seu pai ia foi ao trabalho ser morto por rebeldes aquele dia. Ele lembrou, ela chorava e cantava, uma canção tão depressiva que trazia sentimentos depressivos até ao mais otimista dos homens. Na época ele entendeu que devia honrar a morte de seu pai, quando chegou ao exercito percebeu que era tudo bobagem, e esperou ansiosamente pela sua dispensa, planejava ter filhos caso encontrasse uma mulher que gostasse de seu jeito introvertido, pois afinal, tinha suas qualidades, tais como inteligência e beleza, mesmo que discreta.

"Eis que a morte nos separa e convém nos deixar sozinhos uns com os outros, cuidando de nossos próprios problemas e pensando no passado como uma dor existente e pontiaguda no peito. Você, que desse seu jeito me faz feliz, vá para a guerra, saberão lhe cuidar, saberão lhe cuidar, para que eu nunca mais veja seu rosto novamente..."

Dormiu enquanto cantava, sua arma em seu peito, pobre sujeito de escolhas erradas.

A morte dormia também, acabara de matar um jovem estudante amante da vida.

Applesauceless Week

Lately the nights have an added sparkle, like you could, with your smile, just brighten a whole townhouse. Clean energy for everyone around ...