Acordo de manhã
Vejo luzes sorrindo
o céu se partindo
e o vento rugir.
e a vida só...
Assim escrevia Lúcio, aprendiz de poeta, gostava tanto de escrever que em sua casa haviam milhares de papéis amassados jogados no chão, de idéias não aproveitadas...além de muitas chicaras de café na mesa, bebida que é sua companheira inseparável na busca do poema perfeito.
Nunca achou que escrevia bem, se cobrava constantemente e para ele seus poemas eram todos lixos de um eterno iniciante, nunca se dava por satisfeito. Garotas, amigos e famliares diziam que ele escrevia muito bem, que um dia iria ser um grande poeta, como fora Carlos Drummond de Andrade, seu eterno ídolo, mas para Lúcio, sempre havia uma pedra no meio do caminho.
No meio do caminho havia uma pedra, mas o garoto não a tirava, caminhava a busca de inspiração, mandava seus poemas para poetas consagrados na esperança de que algum deles lesse um de seus textos, mas afinal, poetas andam ocupados a busca de aumentar o próprio sucesso, não têm tempo de ajudar um novato com seus textos primatas, criativos, porém necessitavam de algumas pequenas mudanças, nada que fosse tirar a autencidade de Lúcio, pois o mesmo escrevia de uma forma completamente diferente e original, digno de um futuro grande poeta. Mas ninguém famoso lia tais poemas...
Mandou então a uma editora, o texto que ele achava o melhor que já havia escrito, a editora não achou isso...ele mandou então um que não gostara e recebeu logo depois uma proposta de contrato para a elaboração de um livro de prosas poéticas. Lúcio se indignou e disse não...
...vê
o tempo passar e ir embora
dança em passos largos
e sarcasticamente sorri
pra que esperar o tempo
se o agora está aqui?
Tua namorada achou tal ato ridículo, terminou o namoro de 5 anos naquele mesmo dia que ele rejeitara a proposta da editora, Lúcio então percebeu que a vida estava passando, tinha 25 anos e nenhum futuro construído ainda, iria se contentar com um emprego de açougueiro no supermercado de seu tio, já que não aceitava por momento algum, que seus piores poemas, segundo ele, fossem os melhores para a editora, queria expor o que ele realmente gostava. Ingênuidade dele, posteriormente a editora publicou o poema que ele não gostara com outro nome como sendo o autor do tal texto, Lúcio não havia protegido seus poemas com direitos autorais...
Viveu toda sua vida procurando o poema perfeito, toda sua existência procurando quem o entendesse, quem gostasse do que ele gostava.Mal sabia ele que a vida nunca foi assim, nunca será...temos que nos acostumar em nem sempre ganhar, em aceitar que gostem do que não gostamos, e ele precisava urgentemente de dinheiro, e tinha capacidade para ganhá-lo, mas imbecilidade o suficiente para não aceitá-lo.Não sabia o que fizera de tua vida, o promissor poeta agora era um homem velho e sem criatividade, não evoluiu.
E o tempo, com raiva responde
Vida, o que te espera
se rápido eu for longe
se rápido você passar
é nada mais que tristeza
e um pouco de solidão
porque na hora da morte
verás, nada fez de tua sorte
verás que nada há, não
de te querer, te esperar.
Morreu aos 85 anos, sem nenhum dinheiro no bolso, nem a aposentadoria, vivera todos esses anos com amigos o sustentando, de poema quis viver, mas não soube como. Morreu sozinho, como um legítimo poeta.
E nada há de amar...
nada há de amar...
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